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Falta de orientação sobre riscos e emergência leva tensão a Macacos

  • Estado de Minas
  • 18 de fev. de 2019
  • 4 min de leitura

A manhã de domingo foi de caos no distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, em Nova Lima(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Das pousadas, das estradas rurais e das vielas locais, o trânsito se fundia no largo da Igreja de São Sebastião, impedindo a fluidez dos veículos em qualquer sentido, sempre parando num dos cinco bloqueios erguidos pela Polícia Militar. Em meio ao caos no tráfego das estreitas vielas do distrito de São Sebastião das Águas Claras, as pessoas se aglomeravam em volta de policiais e guardas municipais procurando informações. Desde o fim da tarde de sábado, o fantasma do rompimento de barragem que consumiu Mariana e Brumadinho arrancou moradores, comerciantes e frequentadores de Macacos de suas casas e estabelecimentos comerciais tornando a rotina pacata e encantadora numa corrida desesperada pela salvação.

A tensão era tanta que as pessoas discutiam gravemente com as autoridades, os idosos sentiam palpitações e uma senhora até desmaiou precisando ser acudida. A pressão de saber que a casa da sua família seria arrebatada em menos de 12 minutos por uma onda de rejeitos em caso de rompimento da Barragem B3/B4 da Mina de Mar Azul, da Vale, em Nova Lima, na Grande BH, fez com que a aposentada Janete Atanásio, de 48 anos, deixasse sua residência e passasse a noite e a madrugada procurando por informações. Em meio às intermináveis discussões sem qualquer decisão em cada esquina, porta de casa ou passeio, Janete sentiu seus sentidos se esvaindo em meio à tensão e desmaiou, precisando ser amparada por policiais e pessoas da comunidade.

“Moro bem embaixo (na parte inferior da comunidade, a mais suscetível a um rompimento), na área de risco. A noite foi um inferno. Vim para o centro para ter informações, mas senti fraqueza, tontura e ficou tudo preto”, disse, enquanto era atendida por uma das ambulâncias disponibilizadas pela mineradora Vale.

Moradores de áreas de risco foram cadastradas no centro comunitário(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

O acesso principal de BH para São Sebastião das Águas Claras, pela MG-200, após o trevo da BR-356, foi completamente interditado pela Polícia Militar no povoado, desde a noite de sábado. As estradas acessíveis onde o tráfego foi permitido eram pelo Condomínio Parque do Engenho ou pelo Condomínio Pasárgada. As vias de acesso ao centro da comunidade permaneceram abertas até as 9h40, até que a PM fechou as entradas, permitindo apenas o fluxo de quem precisava deixar suas habitações ou trabalho. As áreas mais baixas, por onde corre o Ribeirão dos Macacos, também foram evacuadas e a PM se certificava de que as pessoas não se mantivessem nesse ponto que seria o mais nevrálgico, por onde se esperava que a onda de rejeitos de um rompimento chegasse. A Vale disponibilizou micro-ônibus com credenciais da Defesa Civil para evacuar as pessoas que necessitassem, mas os veículos não conseguiam se mover com facilidade pelas vielas estreitas, sobretudo em meio ao fluxo intenso de veículos que também tenta evacuar a área, criando ainda mais congestionamento. A despachante Elvira André Cardoso, de 60, mora há 23 anos em Macacos e se sentiu ilhada e desinformada. “Precisamos saber quais são os planos (de evacuação). Que abram outro acesso. Do jeito que está só se gerou pânico. Queremos verdades e informações. Estamos aqui antes dessa barragem. Agora estamos na angústia, sem respirar a liberdade”, disse. SURPRESA - Uma bomba em cima da cabeça dos moradores. É essa a sensação relatada por quem vive em Macacos quando o assunto é a Mina Mar Azul, da Vale. Moradores do distrito revelam que foram surpreendidos com o risco de rompimento da barragem B3/B4, no sábado. “Tivemos palestra sobre os riscos da Capitão do Mato (mais conhecida como Barragem de Pasárgada). Sabíamos que a de Mar Azul estava lá, escondida, mas não tínhamos ideia de que pendia para nosso lado, caso se rompesse. Ninguém da Vale jamais mencionou essa questão. Foi uma surpresa para nós”, afirma o comerciante Gabriel Francisco dos Santos, de 28 anos. A Capitão do Mato é uma das 10 estruturas em risco severo de rompimento em Minas, conforme ação movida pelo Ministério Público do estado (MPMG) contra a Vale. A mineradora afirmou na noite de sábado, por meio de nota, que fez reuniões para apresentação do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) com a comunidade de Macacos, no ano passado. O último encontro ocorreu em 28 de novembro, com cerca de 60 integrantes da comunidade, onde foram apresentados os locais de instalação das sirenes e discutidas as rotas de fuga. Mas, o treinamento efetivo de evacuação, a ser feito pela Defesa Civil Estadual e pela Defesa Civil de Nova Lima, com apoio e participação da Vale, estava previsto somente para junho deste ano. “Durante as reuniões, não fomos preparados para isso. No sábado, ninguém sabia por onde deveria passar”, diz Gabriel. Ele, que abandonou com a família a casa onde moram, reviveu um drama. O pai dele, o aposentado Jaime Gomes dos Santos, de 73, é sobrevivente do acidente na Mina Rio Verde, também em Macacos, em 2001. Na época, cinco pessoas morreram quando a barragem se rompeu e os rejeitos de minério encobriram dois quilômetros de uma estrada e também causou assoreamento, degradação de cursos hídricos e destruição de mata ciliar. Jaime ficou soterrado pela lama, dentro de um caminhão, durante 45 minutos. No início deste mês, o Estado de Minas conversou com o mestre de obras em Macacos, que alertou para o medo de outro rompimento na região. Segundo Gabriel, o pai dele até hoje não se recuperou psicologicamente da tragédia. No sábado à noite, em meio ao caos que tomou conta da população durante a evacuação do distrito, Jaime caiu e precisou ser internado em hospital em Nova Lima.


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